Uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) que deseje se manter estável precisa instituir processos de checagem de antecedentes e auditoria interna.
A colaboração entre clubes de futebol e empresas privadas é uma prática consolidada no cenário esportivo nacional e ainda ganhou novos contornos com a Lei n° 14.193/21, que institui a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) como um modelo jurídico devidamente regulamentado.
Nesse contexto, a tese principal defendida é a de que uma Sociedade Anônima do Futebol, que deseje se manter institucionalmente estável e queira aumentar o seu valor de mercado, precisa instituir processos de checagem de antecedentes e auditoria interna. Isso, por sua vez, fortalece a gestão de riscos de forma mais eficaz.
Essa atividade visa a redução (quando possível) e manejamento das incertezas que afetam os principais objetivos da companhia por meio de metodologias, estratégias e ferramentas que façam sentido para o negócio em questão, com ênfase na manutenção da estabilidade institucional da organização.
Neste caso, as novas SAFs precisarão ser especialmente eficazes, considerando que enfrentarão diversos elementos causadores de instabilidade em potencial, uma vez que tornar um clube de futebol (antes sociedade civil) em uma empresa implica uma série de mudanças culturais e estruturais, incluindo a contratação de novos colaboradores e a relação com os fornecedores.
Sob esse aspecto, desde a alta diretoria até os colaboradores que atuam diretamente no campo, a transformação em SAF envolve algumas diretrizes, como a rápida necessidade de contratação de mão de obra qualificada e com poder decisório; treinamento e adaptação dos antigos funcionários com reestruturação de cargos; e acompanhamento do setor, com ou sem a manutenção dos colaboradores nas antigas funções, a fim de evitar riscos ali alocados antes da transformação em SAF.
No que diz respeito aos fornecedores, o cenário é semelhante: investigar a qualidade do produto entregue, a reputação da empresa contratada e sua relação com antigos parceiros é essencial para manutenção da qualidade e evitar escândalos.
É importante ressaltar que, em todos os cenários, a ausência da ampla adoção de checagem de antecedentes para colaboradores e parceiros pode implicar em instabilidade institucional, com prejuízos financeiros de altas proporções e danos irreparáveis à imagem do projeto recém estruturado.
Por outro lado, a auditoria interna na SAF suporta diversos processos previstos na Lei 14.193/2021. Entre eles, estão a revisão dos contratos, bens e direitos ”herdados” das entidades de administração, assim como o desenho organizacional para segregação de tarefas (conhecido no mercado pela sigla em inglês S.o.D). Além disso, se faz obrigatória a existência e o funcionamento permanente de um conselho de administração e fiscal dentro do clube-empresa.
Assim, os clubes que estiverem mais aderentes e evoluídos sobre o entendimento da gestão de riscos nos negócios tendem a se valorizar para o mercado. Com isso, a lógica nesta afirmação está na relação entre o valor do ativo e o risco atribuído ao negócio, pois não é racional pagar caro por um ativo que tende a oferecer ônus de natureza financeira e legal, e que pode comprometer o retorno financeiro esperado no projeto de viabilidade inicial.
Esses objetivos podem ser alcançados por meio do conjunto de componentes interrelacionados, como ambiente de controle, avaliação de riscos, informação transparente, comunicação e monitoramento eficiente sobre as diversas áreas dos clubes, desde a financeira até a própria área de futebol.
Para o êxito destes modelos, os clubes também precisam ter clareza sobre a necessidade de ter seu time “fora de campo”, composto por bons profissionais que sejam capazes de garantir compromissos com os objetivos da metodologia. E isso, sempre pensando em soluções efetivas para se prevenirem de riscos recorrentes na área e seguir com mais tranquilidade nos negócios.
*Pedro César Sousa Oliveira é consultor em Pesquisa e Desenvolvimento da Aliant, empresa especializada em soluções para governança, compliance, ética, privacidade e ESG e Rafael de Souza Farias é consultor pleno de Auditoria Interna e Assessoria Financeira da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.