O background check cada vez mais faz parte da rotina de contratação de profissionais. E no campo público? Existe Background check eleitoral?
Nas organizações empresariais, os termos “background check” (checagem de antecedentes) e “análise de integridade” cada vez mais fazem parte da rotina de contratação de profissionais que vão lidar com as decisões do negócio. E no campo público, será que esses mecanismos podem ser utilizados de forma análoga? Existe background check eleitoral?
A resposta felizmente é positiva: utilizando-se de modelos analíticos desenvolvidos e aprimorados no campo empresarial ao longo dos últimos anos é possível oferecer ao universo político uma metodologia eficiente para a análise da vida pregressa dos candidatos que pretendem concorrer às eleições. Essa metodologia pode ser aplicada na realização de um levantamento detalhado da biografia dos candidatos para detectar possíveis desvios éticos e comportamentais.
O background check permite aos partidos e organizações políticas enxergarem a coerência do candidato nas mais variadas dimensões. De comentário homofóbico numa rede social ao envolvimento num crime, dos locais onde realmente trabalhou e estudou à sua situação frente às autoridades fiscais, ou seja, tudo o que é passível de registro público pode ser recuperado e analisado. Isso ajuda a entender o alinhamento do candidato em relação aos propósitos que declara ter.
É crítico conhecer esse histórico proativamente e não por terceiros, como partidos adversários ou de reportagens investigativas da imprensa. Adicionalmente, o background check pode ser usado como uma ferramenta de preparo a interpretações que possam explorar eventuais dilemas éticos e morais do candidato quando houver um ataque.
Após este olhar sobre o histórico do candidato, condição sine qua non para a aceitação da sua candidatura, é possível também realizar a análise de integridade, que traz uma visão voltada ao futuro. Nesta etapa, avalia-se a flexibilidade moral do candidato diante de dilemas éticos encontrados no dia a dia de um cargo público, complementado com insumos já obtidos no background check.
Esta análise, o background check eleitoral, não se trata de um processo investigativo. A ideia é entender a forma de pensar de um candidato, de como ele lida com dilemas e qual sua flexibilidade diante deles, ou seja, ajuda a entender o que candidato faria numa determinada situação.
Juntas, a análise de integridade e o background check são poderosas ferramentas que podem ser utilizadas de forma massificada pelos partidos e organizações políticas, o que de fato já tem ocorrido nos últimos anos com importantes organizações políticas apartidárias e com um dos maiores partidos do Brasil.
Conhecer profundamente quem será o seu candidato é tão ou mais importante quanto saber quem será um gestor empresarial. Portanto, cabe aos eleitores demandarem essa conduta pelos partidos e organizações políticas de sua afinidade, afinal, é a população que “contrata” representantes para conduzirem a gestão da cidade, estado e país.
* Fernando Fleider é CEO da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.
Fonte: Consultor Jurídico
https://www.conjur.com.br/2022-jun-13/fernando-fleider-eleicoes-background-check